A população da República Democrática do Congo enfrenta “uma das piores crises humanitárias do mundo”, denunciou na sexta-feira (11) a ONU (Organização das Nações Unidas), cujas agências encaram um “verdadeiro desafio” em razão da violência e de uma falta severa de recursos. “O país vem enfrentando uma das piores crises humanitárias do mundo”, enquanto “os abusos de grupos armados, entre os quais o Exército de Resistência do Senhor (LRA), não param de aumentar”, explicou à Agência France Press, a porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha), Elisabeth Byrs.
“Trabalhar na República Democrática do Congo tornou-se um verdadeiro desafio para os humanitários, tanto por razões de segurança como por falta de financiamentos”, disse Byrs. Somente 30% dos US$ 827 milhões pedidos pela ONU para suas operações no país são financiados atualmente. “Se a ajuda financeira não chegar, seremos obrigados a reduzir nossa assistência a uma população que precisa muito dela”, insiste.
Combates, estupros e mutilações
Ao mesmo tempo, as operações da ONU “são realmente perturbadas pelos combates, pelos tumultos, pelo banditismo, que não afetam somente os civis, os trabalhadores humanitários também são atacados com frequência”. Segundo o Ocha, a falta de segurança é particularmente problemática nas regiões da Província-Oriental, nos dois Kivus, bem como na província de Equateur. Na Província-Oriental (norte do país), desde setembro de 2008, o LRA “aterroriza a população, ataca, queima os vilarejos, sequestra os civis e especialmente as crianças”, ressaltou Byrs durante uma coletiva de imprensa.
A ONU observou que, desde dezembro de 2007, o LRA matou 1.796 civis, sequestrou 2.377 pessoas, entre as quais 807 crianças. “Um certo número de pessoas foram mutiladas, o que já é bem horrível, e cortaram-lhes as orelhas ou os lábios”, explicou a porta-voz, que se preocupa com um aumento da violência.
Entre dezembro de 2009 e março de 2010, o LRA matou 407 civis e sequestrou 302 pessoas, incluindo 125 crianças. Nos Kivus e na província de Maniema (leste), também são muitas as violações dos direitos humanos, especialmente as violências sexuais. Em 2009, “houve 8 mil casos de estupros registrados, sendo que a maioria foi perpetrada por homens armados”, segundo o Ocha, que calcula que, em média, “160 mulheres são estupradas a cada semana”.
Na província de Equateur (nordeste do país), os problemas são idênticos, onde é difícil o acesso às populações nos arredores de Bozene e Dongo. Em 2009, a ONU distribuiu 2,8 milhões de rações alimentares na República Democrática do Congo onde, desde 2005, vem agindo principalmente no extremo nordeste o Exército de Resistência do Senhor (LRA), uma das guerrilhas mais brutais do mundo.
Le Monde, 12/06/10:
[notícia enviada por Rogério Haesbaert]