As catástrofes se multiplicam por todo o planeta. Algumas exibem uma carranca de tempestade avassaladora, tais como terremotos, furacões, tornados, tufões, inundações, tsunames que tudo varrem e devastam... Outras primam pela ausência de sinais borrascosos e por um silêncio que mais parece indiferenças dos céus: é o caso das secas ou estiagens prolongadas, da progressiva desertificação do solo, do desaparecimento de rios perenes, que se tornam temporários... Mas há também a agressão do ser humano, ou de seus modelos socioeconômicos e político-culturais, que avançam indiscriminadamente sobre as florestas, comprometem os biomas e causam o desequilíbrio dos ecossistemas... E ainda a contaminação crescente do ar, pela emissão de gás carbônico ou outras formas de poluentes, contribuindo para o aquecimento global, para o degelo dos pólos e das montanhas, para a elevação do nível dos oceanos e para a destruição da camada protetora de ozônio... Por fim, a poluição dos rios, lagos e mares, deixando as águas cada vez mais impróprias para o consumo e reduzindo cada vez mais a quantidade de água potável sobre a face da terra...
Resulta que nossa “morada terrestre”, de forma às vezes invisível, imperceptível, mas sempre implacável, reduz a possibilidade de gerar e preservar a vida. Enquanto, de um lado, muitos recursos naturais são irresponsavelmente utilizados e desperdiçados, de outro, a pobreza, a miséria e a fome ainda devoram cerca de um bilhão de seres humanos em todo mundo. Pior ainda se olharmos as coisas do lado da biodiversidade, isto é, da vida em suas diversas formas. Cresce a ameaça e o desaparecimento puro e simples de várias espécies da fauna e da flora. Nem precisa lembrar que cada forma de vida que desaparece, diminui a capacidade humana de sobrevivência sobre o planeta. Com frequência temos sentimentos carinhosos e ternos com o globo, chamando-o não raro de “mãe-terra”. Mas, primeiro nos países do ocidente e agora por toda parte, com o passar do tempo vamos impedindo que a Terra seja de fato a mãe da vida. A ação violenta e exploratória dos projetos humanos sobre ela e seus bens, engendra uma espiral de grave esterilidade.
Tanto que, hoje em dia, quando falamos de “catástrofes naturais” é quase obrigatório o uso das aspas. Até que ponto as convulsões do planeta, com suas tormentas, ventanias e ondas gigantes, são efetivamente fenômenos naturais? Os cientistas, os ambientalistas e uma série de organizações não governamentais e de movimentos sociais nos alertam que, em não poucos casos, tais catástrofes se originam na agressividade do “progresso técnico” sobre o sistema ecológico. O planeta reage violentamente ao ritmo e à velocidade, igualmente violentos, que sobre ele se abateu particularmente a partir dos séculos XVIII e XIX, com a consolidação da Revolução Industrial. Que o atestem a queima de combustíveis fósseis (carvão, gás e petróleo), a derrubada das matas nativas e a quantidade de dejetos que são jogados no solo e na água.
As regras do desenvolvimento são ditadas pelo mercado, com sua voracidade de lucro como motor dos avanços tecnológicos. A ciência trouxe evidentemente melhorias significativas nos transportes, nas comunicações, na medicina e no conforto pessoal e familiar. Mas, aliada à tecnologia de ponta, produziu gigantescas máquinas de matar. De fato, a indústria bélica constitui, em geral, a ponta de lança dos avanços de maior envergadura. Não é à toa que as tensões, os conflitos abertos e as guerras proliferam e se avolumam em capacidade destrutiva e em número de vítimas fatais. Depois de Primeira e Segunda Grandes Guerras Mundiais, um espectro ronda furiosamente nossas portas e janelas: a ameaça de destruição total. Os princípios éticos na prática política, bem como a subordinação da economia a políticas públicas, atualmente parecem uma verdadeira comédia. A fome de acumulação capitalista atropela todo tipo de moral e de prática bem intencionada. Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
Anexo(s) de Provincia S=?ISO-8859-1?Q?=E3?=o Paulo
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