Brasil na rota dos imigrantes africanos
Muito se tem publicitado no Brasil que este entrou na rota dos imigrantes africanos. O Brasil – país cuja gênese da população está na “mistura de raças”, dentro das quais se destacou, desde os primórdios da sua história, a raça negra dos escravos oriundos de África – agora é visto como o país que acolhe muitos africanos que fogem da guerra e da fome e vão em busca de melhores oportunidades de estudo e de trabalho. Hoje, 65% dos refugiados no Brasil são africanos e já existe até um programa de distribuição de alimentos no Rio de Janeiro que beneficia refugiados e imigrantes angolanos e congoleses. Trata-se de um programa do Governo Federal que compra produtos ( frutas, verduras e peixes) de pequenos produtores para doar às comunidades necessitadas. Por isso, apesar do continente europeu ainda ser o principal destino dos africanos, o Brasil também começa a estar na rota de quem quer deixar África. Hoje, é possível encontrar nos “ morros” do Rio muitas comunidades africanas. Conta a história que foi no final dos anos 70 que chegaram ao Brasil os primeiros imigrantes do Congo. Nos últimos dez anos esta imigração tem-se intensificado. Muitos congoleses saíram das áreas nobres no seu país, têm formação universitária e ainda assim têm dificuldade em conseguirem trabalho no Brasil. ( Será que estamos diante de um “ racismo não declarado”?). Por isso, estes imigrantes vêem-se obrigados a viver nos chamados “ bairros populares” e, apesar das dificuldades encontradas em seu país de origem, alguns já ponderam regressar. Mas o estudo ainda é um dos principais motivos que leva muitos africanos, sobretudo caboverdianos, ao Brasil. Até o atual primeiro-ministro daquele país, José Maria Neves, licenciou-se pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo. Atraídos por programas de intercâmbio em universidades públicas e privadas, cinco mil cabo-verdianos vivem no Brasil. Destes, dois mil são estudantes universitários e a maioria deve regressar ao seu país de origem quando concluir os estudos. Ainda assim, há sempre quem opte por ficar, pois, mesmo que exista um “racismo não declarado”, neste momento há muitas oportunidades de trabalho em terras brasileiras.
Diário de Notícias, 02/04/11: http://cimdn.newspaperdirect.com/epaper/viewer.aspx